Translate

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PROGRAMAÇÃO DE SETEMBRO AHORAMÁGICA

"A caça ao Leão com arco" (Jean Rouch, 1965) & "Hermeto, campeão" (Thomas Farkas, 1981) - 05/09

"Zorba, o Grego" (Michael Cacoyannis, 1964) & "A cantoria" (Geraldo Sarno, 1971) - 12/09

"O Pequeno Buda" (Bernardo Bertolucci, 1993) & "Eu carrego um sertão dentro de mim" (Geraldo Sarno, 1980) - 19/09

"Nunca Aos Domingos" (Jules Dassin, 1960) & Exibição de curtas realizado pela Ahoramágica criações - 26/09

Na Vila Cultural Brasil (Rua Uruguai, 1656 esquina com rua Venezuela - Vila Brasil - Londrina - PR)
Sempre aos domingos... 16 horas...

Resposta a que tanto Buda

Concordo com Don Mioto, sobre a perda e não quebra de ritmo que acontece no filme, isso provavelmente aconteceu por conta de quem banca a produção e cobra que os prazos sejam cumpridos. Mas o filme demonstra um grande potencial, inclusive já revelado do senhor Bernardo Bertolucci e do ilustríssimo Vitório Storaro (diretor de fotografia), contudo, fiquei especialmente tocado pelo Eu Tenho um Sertão Dentro de Mim, principalmente pelo texto do Guimarães Rosa, ou Guimarões. Pensei em algumas coisitas quando estava indo para o Lauro Gomes, hoje cedo, lendo o Grande Sertão: Veredas, obra belíssima, prenhe de cotidianos que se sente o cheiro, o odor, o perfume e o fedor:
Lê um livro só com os olhos? Vê um filme só com a vista? E a chuva, o que fez com ela? O que dela faz? Eu tenho as mãos sujas de amora, um passeio que foi plantado na tarde, as folhas que interpelaram a trilha dos meus passos, o vento canta na orelha da gente, um assobio grave que eleva o coração à infinetésima potência. Vai, se lambuza com esperanças, sente os sonhos percorrerem o rio, e a terceira, e a quarta, e a quinta margem, onde o barco aporta, onde o porto é rede, muito mais abraço do que chão, muito mais calor do que segurança. Peito, instrumento principiante, garganta lacrimeja cantoria, disparo finda riso de criança. "Viver é um negócio muito perigoso". Encontrou uma porta aberta, muito mais que uma abrigo, adentrou uma hora mágica, mas até o encanto carrega feridas, podemos até cicatrizar, mas ninguém sara definitivamente da vida. Cada suspiro nos aproxima do fim, não sabemos até quando ficaremos, sentimos o momento do gozo que dura uma aurora, um pôr-do-sol, uma semente noturna, uma madrugada insône, instante em que pensamento, coração, mente, corpo, cérebros, veias, vísceras se encontram, já não nos sentimos partidos. São lugares epifânicos que duram uma eternidade, a eternidade finda, isso poucos entendem. Não é o chá que sobrou da chícara que nos interessa, é o conteúdo perdição das mãos que nos intriga. A vertigem é inerente ao salto, o tormento é expressão do ato medroso, ainda assim, desafiamos o medo, convidamos a cautela para dançar, escapamos dela e convertemos o cuidado em carinho. Apanhamos flor, sim, para degustar o cheiro, colocamos pedras no caminho, sim, desatamos numa briga de amantes com a vida como os ponteiros sentem a dor agônica da hora não marcada. A hora do silêncio que dura a medida da nossa ansiedade, porém, é próprio da ansiedade se fundir com paixão, ser assim desmedida, é assim que o pensamento é confrontado, que as idéias que formamos sobre as coisas são chamadas pra jogar. Ás vezes perdem, a vida carrega um ás na manga, um coringa, Erasmo sabe disso. Caminhos dóem de tão bonitos, caminhos dóem de tão tristes, aprender é mudar. Disso, que Sidarta soube, a gente aprende na levada cotidiana, nos breques e nos atropelamentos, com um soco no estômago, uma carícia, um beijo, de arame farpado, de desejo, de amor. A saudade, cânone do amor que nos encaminha, assim, muito mais do que sina, possibilidade de virar e revirar, sairá uns trocados, a gente pelo avesso. Fazer da linha de fuga, salto quântico, cântico da hora que não se sabe o nome do nome, que demonstra o quanto o sagrado é terrível e belamente profano. Profanos, padecedores, apaguemos as luzes, o sol já baixou, temos apenas o convite dos olhos, el latido humano, dentro do nosso sono, quebrante do ritmo solitário...cadência...cadência...

que tanto Buda?

escrito após a exibição ahoramagiquenha de "O pequeno Buda" de Bertolucci.

limpe o canal do nariz, soe, forte, os dois. numa posição segura e relaxada, esqueça tudo que veio, o que dói deixa doer, sinta ali como dói e deixa doer, perceba como é engraçado a dor, o desconforto, a necessidade de ficar se mexendo todo tempo, mas não se mexa, resista que o corpo desiste, foca numa coisa simples, como a respiração, deixa as coisas da mente vir e não segure-as, deixe-as passar, não se identifique com elas, deixa ir, e vai vir cada coisa que nunca veio porque você não deixava, mas quando vir deixa continuar fluindo. quem que fica? um observador, diriam muitos, eu prefiro um "sentidor", que é mudo, sereno, só brilha, tá bem aí, muito próximo, é bem simples encontrá-lo, não tem muita complicação não, pode ir, silencie, vai num lugar onde se ouve o vento (não é?) e pare o mundo. bem encima da cabeça surge um vazio potente, dá uma sentida ali, se assustará, não se identifique... continue porali... é a senda... ouça a coisa mais longe que consegue... agora a mais perto... ouça esse zumbido... respire profundamente, só respirando que agente encontra agente mesmo... daí pra frente agente conversa.
tem outros assuntos no Pequeno Buda... a reencarnação... a morte... a iluminação... os tibetanos dão risada de quem pensa que se trata de uma crendice, ou alucinação... acreditando ou não, essas coisas existem, não dependem muito do que você pensa. porque pensamento é algo longe disso tudo. é formulação e mutável, segue um paradigma e dentro dele uma lógica frágil, quebrável num tapa. mas nem por isso esse tal de "pensamento" não deixa de ser arrogante e formular a frase: isso aí é um erro... esses que se retiram pra pensar nesses enigmas estão todos doidões, todos não sabem de nada... sou eu quem sabe. eu. esse pensamento que nunca pensou direito sobre isso e mesmo que tivesse pensado só se complicaria mais com as soluções lógicas frágeis. nada é lógico num mundo divino. o que temos é um grande, pesado e empoeirado pano de ilusão: a racionalidade, que nem nos deixa interessar por temas supremos. ah... quanto tempo demorará essa nossa petulância? quantos caminhos que só tem sentido pra um apenas terão de ser cavados e desmoronados ainda? todos estamos dentro do mesmo barco labiríntico, rumando pras mesmas questões. formulá-las corretamente já é uma grande remada, perceber que muitos outros já tentaram é outra grande remada n'água.
e a fotografia do filme é tão vasta e tanta que o Bertolucci teve que cortar veloz... teve que acelerar a poesia... se não fosse um filme pra vender agente ia ver como que se confecciona fotos... essa história merecia mais coragem de assumir sua lentidão... afinal, o assunto e as imagens ali são pra serem focadas por toda a vida.

BudaMoney

Eu quero uma magnum 44
Sou a insensatez do todo
A insatisfação do tolo
A ignorância do perverso

Perdão, sou a industria
Que de cultura não tem nada,
e que nem um buda aguenta!

Resposta a caça ao leão

Apesar da sagacidade e poderes do felino Americano, três dos seus caíram, vencidos pela astúcia humana. Quantos ritos, mitos, simbologia, feitiços, canções, rastreamento, consulta aos búzios e as estrelas, técnicas são necessários para se matar um Leão tremendamente mau que gosta de matar os rebanhos? e por onde anda o Leão invisível, agora? Se preparando para o rebote?
A história perambula entre o real e o imaginário, a ciência e a poesia. O documentário etnográfico segue nos caminhos da narrativa poética para descrever a história-fábula dos caçadores Songhay.. que vingam as perdas dos estimados gados dos pastores nômades... Prepara-se o veneno para untar as flechas num longo ritual.. "o veneno da fêmea é mais forte que a do macho", a sentença causa estranhamento. Por que esse sentido ambíguo da mulher, heim? Por ela as vezes ser reimosa, com seus humores glutinosos? Tal sentença é repetida diversas vezes. "Não se pode matar o leão zangado": entoam alguns dizeres para que o filhote de leão debilitado se acalme, ele caiu numa armadilha. Quem irá atirar no leãozinho? Pode-se perder um filho naquele ano. "Uma leoa vomita a própria morte", a cena é forte. O caçador dá tapas na cabeça da fera sem vida, pois é preciso liberar sua alma. O ritual de sacrifício é feito com pedidos de perdão e agradecimento. Em se pensar que matamos uma formiga ou qualquer outro bicho sem cerimônias. A façanha é contada e encenada às crianças que escutam com os olhos arregalados ao som de Gawey-gawey, a canção que encoraja os caçadores de leões, o pequeno violino monocórdio embala o documentário-ficção.

Caça ao leão invisível

Escrito após a exibição ahoramagiquenha da "Caça ao leão com arco" de Jean Rouch.

o americano não caiu. ficou. ninguém nem nunca viu ele. os caçadores na feitiçaria alcançaram um amuleto pra invisibilidade. o americano é invisível quando quer. e ele é só um. aprendeu tudo aquilo que sabe não se sabe de onde. que documentário-cinema-etnografia conseguiria mostrar-nos de onde vem tanta sagacidade? sutilidade felina? é um ser maravilhoso, mágico, imenso, que aqueles feiticeiros-guerreiros e sua comunidade convivem... convivem com girafas correndo em manada, logo ali depois do rio tem animais quatro vezes maior que você... agente aqui tem medo, nojo, sentido de domesticação de rato, formiga, rottweiler... lá o branco dos olhos são amarelos, atentos, vivos, pois ali tem uma girafa correndo e mais pra frente um leão absolutamente poderoso e que está afim de enfrentar-nos, romper os acordos... coragem é algo básico, já pré-requisito pra viver como guerreiro, outros são viver e fazer impecavelmente tudo, inclusive respeitar e cultuar aquele que te ataca, entoar cânticos que acelerem o processo da morte, recear milimetricamente a criação de um veneno, interpretar as mensagens deixadas pelo leão, ler os símbolos da Terra e dos caminhos, como-onde-quando a armadilha arma-se e tudo, inclusive impecável ao caminhar, falar sobre. estamos muito longe disso tudo, mas esse filme existe e nos mostra feitiçarias. o americano continua rondando todo o território que lhe cabe, deve estar puto por que o filho caiu, e duas das amadas caíram...
ou ele doou-os como uma trégua? mas, mesmo que não estejamos o vendo, ele está aí... em algum lugar... nos mirando... sentindo nossas ações, nos farejando e nos interpretando. o que será que está planejando? qual será sua próxima provocação?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Distinção entre novela e cinema

O cinema, como é sabido, surgiu antes da novela, ou melhor, da telenovela. Para alguns, como Arlindo Machado, o cinema data da considerada pré-história, para a maioria, como Jean-Luc Godard, o cinema nasceu no final do século XIX, como uma modo de expressão extremamente concatenado à indústria, possível no interior do modo de produção capitalista. É importante nos lembrarmos que o cinema antecede a televisão, ainda que esta tenha sido muito mais presente nas nossas vidas, já que nascemos na década de 80, momento em que as videolocadoras começam a profilerar, assim como, a velocidade e a força física demonstram sinais de tendência predominante no futebol. Não podemos negar, contudo, que mesmo em ambientes alternativos à salinha escura é possível apreciar belíssimas obras cinematográficas, como também, a maneira como a televisão venho a se diferenciar da produção cinematográfica e, inclusive, a influenciá-la, e vice-versa. Para compreender essa relação, se é que temos coragem de sustentar as nossas afirmações ao considerarmos um filme um grande novelão, até porque - coragem é algo de difícil de ter, mas muito bonito de ver num lugar longínquo habitado por caçadores de leão - é preciso contemplar as peculiaridades, as singularides, as especificidades desses dois modos de manifestação.
A tele-novela, se não me engano, é oriunda do final da década de 60, muito colada ao nascimento da própria televisão, usa-se o termo tele, não por acaso, mas porque já existia naquela época foto-novela e, também, romances folhetinescos, como é o caso, por exemplo, da Engraçadinha do excelentíssimo e magnificiente Nelson Rodrigues. Os folhetins, por sua vezes, não foram iniciados no século XX, mas no século passado, um dos momentos de sua maior expressividade foi durante a fase do romantismo, lembra-se de José de Alencar? Pois é, escrevia romances folhetinescos, algo muito comum naquela época. Mas a tele-novela, caríssimo senhor, não bebeu apenas desse romantismo mais meloso, foi e ainda é extremamente influenciada pelas tragédias gregas, pelos épicos e por algumas perspectivas holywoodianas cinematográficas. Consideremos, também, que Holywood é, como muitas coisas na vida, extremamente heterogêneo e diversificado, e que seria um grande equívoco da nossa parte dizer que John Huston, John Ford, Howard Hawks, Charles Chaplin, Alfred Hitchcock, entre outros, são a mesma coisa. Da mesma maneira, que ao afirmarmos o nosso desgosto pela tele-novela, seria importante reconhecer, também, o nosso desconhecimento sobre o assunto, ou, pelo menos, saber reconhecer que O Bem Amado e O Roque Santeiro não são a mesma coisa que o Caminho das Índias, caríssimo camarada.
No entanto, mesmo que cinema e novela sejam coisas extremamente diversificadas, tenham, em algum momento de suas existências, se implicado, existem distinções gritantes no sentido da intensidade, do conteúdo, da fotografia, da trilha sonora, da direção, da atuação e do enredo. Uma novela pode ter os seus rumos mudados se o público assim quiser, ainda que não seja necessariamente um teatro-fórum. Não há problemas para a rede Globo em solicitar ao autor da novela que alterne o deselance da sua estória, já que a telespectador não está contente com ela, pode até matar um personagem. Isto, porque sabemos, as novelas não duram apenas 10 minutos ou, então 2 horas e 20 minutos, são meses de capítulos, de segunda à sábado, pode ser muitos meses caso renda um bom íbope, pode ser pouquíssimos meses, caso renda pouco íbope. É importante destacar essa interação: no âmbito televisivo, bom é igual a muito, ruim é igual a pouco, pouco pode até ser bom, mas como uma primeira experiência, digamos...programa piloto.
Um filme também pode ter seu roteiro modificado, inclusive durante a filmagem, seja por impossibilidades que surgiram ao longo da produção do filme, seja pelo descontentamento de quem está bancando o mesmo e pretende lucrar com ele. Necessariamente, não é preciso que se faça roteiros para fazer cinema, nos lembremos de Avant-Garde, Cinema Surrealista, Dziga Vertov, Trilogia dos Qatsi, Baraka, e de todas as obras plenamente audiovisuais. Porém, ainda que Vertov tenha afirmado a peculiaridade cinematográfica na sua ruptura com outras formas de arte como a literatura e o teatro, isso não quer dizer que o cineasta russo tenha produzido obras autenticamente artísticas, isso não quer dizer que obras autenticamente cinematográficas sejam autenticamente artísticas. Não se trata apenas de forma, mas de conteúdo. A forma se torna pobre se a obra carece de conteúdo, vemos apenas um bom manobrista, mas falta visceralidade, tormenta, paixão, neblina, multi-sonâncias, etcétera.
Mesmo no cinema narrativo, que bebeu demasiado da crônica e da literatura, é possível encontrar obras de valor artístico, ou próximo disso, pois toca a vida, as estranhas e as entranhas, as vísceras e as paixões, pulsa para adiante, compartilha sonhos, têm sentido prospectivo, pois se não procuramos na arte qualquer coisa que seja potencializadora, então como podemos afirmar amor à vida, ou, mais ainda, como podemos afirmar que queremos continuar a viver, ou não queremos? Desejamos findar ao entardecer? Para muitas pessoas é difícil enxergar o que é HappyEnd, é complicado discernir entre um descontentamento com o Final Feliz de uma expressão fílmica e a busca de felicidade em um novo devir. No HappyEnd tradicional, estereotipado, o vilão perde, o bonzinho ganha, as fronteiras entre o mal e o bem não nitidamente expostas, os fracos são perdoados, os fortes são complacentes e as mulheres mais lindas são, também, as mais poéticas e românticas. No final feliz, no sentido de potencializador, afirma-se que ainda é possível viver, ainda é possível tentar de um outro jeito, mesmo
que a mãe de Ponette não volte,
que o seu possível novo amor tenha ido embora,
que o seu projeto tenha sido um fiasco,
que a mulher pela qual você se apaixonou tenha morrido,
que o leão americano que você caçou tenha escapado,
que a filha que você acabou de descobrir tenha falecido,
que você e sua mãe tenham sido despejados porque não pagaram o aluguel,
que a lei de Murphy tenha se concretizado e tudo, ou quase tudo, deu errado,
A força de Zorba não está em não morrer, está em encontrar algum motivo para viver, mesmo que não possa evitar a morte. Ele tenta salvar a jovem viúva, ele consegue por um instante, mas nem que tivesse a força de dez homens e olhos nas costas, poderia ser plenamente bem sucedido, nem que tivesse usado cinqüenta taças de vinho. Porque dançar se nada saiu como planejado, se a impecabilidade foi impossível, ou ela apenas não ocorreu? Já deu uma olhada bem de perto no abismo, já viu como ele se parece com o infinito? Já utilizou o infinito como medida para a dor? Não é a propaganda de margarina - anunciante de qualidade de vida - ou uma bela caminha na beira do lago, ou algumas braçadas na piscina que nos fará dormir mais tranqüilos, que espantará a insônia. Zorba disse:
- Quando meu filho morreu, muitos choraram, eu dancei, eu explodi.
Explodiu para que um feixe alcançasse o coração do meio inglês, meio grego, encantamento que assustou o mesmo inclusive. Estrangeiro que temeu a jovem viúva, a paixão, demasiadamente a paixão, mas, com as mãos fechadas, os punhos cerrados, da mesma maneira que segurava as correntes de suas travas, alcançou a pele da moça para exprimir aquilo que escapa às palavras:
- Ensina-me o amor, ensina-me a amar...
"Preciso aprender os mistérios do mundo pra te ensinar",
Precisamos aprender os mistérios do mundo, juntos, eu diria à minha amada.

Zorba e a cueca


...um rio navegado me ensinou o ludibriamento. mas e pra usá-lo por uns dias tenho de saber que podem ter consequências... mas quando o ludibrio é pela poesia, vai fundo que a providência colabora... volto pra casa tranquilo e gargalhando, usando da poesia que Zorba lembra pro mundo que existe... provoco incomodações com ironias postas que fazem barbados tremerem o olho, coçarem o buraco do nariz e confundirem as opiniões... a discussão tem de ser provacada, ahoramágicos, e numa ahoramágica ela vem de onde menos se espera... pega no contra-pulo... irrita e confunde e assusta pra que se digam e se constrapunha e se ponham... Zorba, o the greek Alexis é duma estupenda feitiçaria (e narrativa sim, longa e saborosa), nem vi as duas horas e vinte passando e aqueles atores são gigantescos e o diretor do lado... mas o roteiro pra mim nem é um roteiro, mas um mapa de conceitos pra falarmos sobre o que estamos vasculhando... cada personagem e cada uma de suas bagunças é uma fábula demonstrativa de como pode ser discursado e posto em roda a temática "sensibilização"... ali se vê as travas, a interpretação de um sujeito sufocado pega nas entranhas, sufoca quem vê, dá aquela vontade de pular dentro da tela e bater na nuca do cara pra que faça qualquer coisa de coragem, que perca o medo, que perca tanta frescura com seu topete... ahhhhhhhh! malditos, ela é linda e voceis querem passar a faca em seu pescoço porque é a riqueza pulando e gritando e isso não é suportável num mundo contido e moralizado até as pontas da hipocrisia... faz alguma coisa... ahhhhhhhhhh! Zorba!!!!!!!!! aparece... Zorba!!!!!!!!! que cena representativa das relações esvaziadas e medrosas e moralizadas que nos impedem de conhecer a nossa chama azul e de tocar as chamas azul daquele que está bem ali... dá vontade de vomitar nosso entupimento, que cena terrível de se mesclar... mais, mais, mais, Zorba é o pai e o amigo que ensina a rebeldia, os desvios, ainda bem que ele existe pra quando eu tomar coragem de ele me ensinará os passos de dança... só acredite em deuses que dancem! Agora, tem aquela cena que ele consegue driblar os entupimentos e entra em um fio de breve embriaguês no quarto da moça de olhos imensos!!!! ela é a mãe, ele não consegue ser homem, ele não cresceu, só é um meninão, com dinheiro... "me ensina mãe, eu nem sei onde fica o meu coração quanto mais o de uma mágica como você, com esses olhões!"... ele tinha ali uma maneira de contruir um chão familiar... com pai e mãe... mas que chão torto!... já muito bagunçado e atrasado...! agora tem de crescer no susto e vai ter muita dor se não aprender a explodir, dando gargalhada da seriedade da sua vida e de como se construiu... foi sábio por fim... explodiu na primeira oportunidade que apareceu após o desastre do assassinado de sua mãe-com-quem-tem-de-se-deitar por causa de sua inanição de vizualizar o seu próprio brilho azulado! mas ali também foi muito fácil, a seriedade foi abaixo de uma maneira muito engraçada e fantástica... e não tem pra onde fugir, vai ter de plantar bananeira junto com o Zorba... ou, se quizer, a escuridão de um buraco que nem o mais travado gostaria de entrar... as contigências e fluxos que Zorba, irresponsável, armou confeccionaram caminhos tão abertos que não se pode mais distinguir onde está a guia. ...e o respeito pelas doideras de cada um e das que vão se impondo na vida do personagem Zorba... esse aí carrega uma placa indicando pra divindade presente nesta dimensão, onde os homens criam cinema e põe no nosso nariz histórias que nos lembra dos descaminhos necessários e dos caminhos esquecidos. Taí, ahoramágicos... onde a poesia dialoga com a provocação. Por onde esse diálogo escorrega o caminho é engraçado e não se é fácil o diagnóstico quadrado, nem o reconhecimento tão veloz, escorre-se pelo dedos, mais firmeza mano! Esse filme é um campo conceitual... um ABC... uma cartilha pra gente continuar no domingo que vem e nos outros e záz, záz...

e para baixar a trilha sonora do Zorba, the greek: http://www.4shared.com/get/1OqylrIn/Zorba_The_Greek_-_Original_Sou.html

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

todos temos um

Quem está aí?
Que dá crédito ainda ao tempo,
que agora imagina
e se sente só ou completo?
O que mira, quem é?
Estou tentando caguetá-lo.
Do que é feito este por
onde transpassa as substâncias
e que ainda fica,
não corre, não muda, nem se muda?
Que está sempre aparecendo cada
vez mais e com o sorriso
sereno eterno toda vez diz mudo: sempre estive aqui.
O que é este? Que vive em todas camadas
do mundo de uma vez só?
Que reconhecemos quando pulamos na frente
do medo e lhe damos um susto?
Aquele susto de perder o controle
e a desesperadora estagnação do entendido.
Onde esté este que fica quando tudo
o mais vai embora?
Este que estudo o enigma, quem é?
Quando o vir, ele já era você desde o sempre.
Desvendando quais são as missões, se embaraçando nas dúvidas,
adimitindo que tudo é maior.
Carrega sacos de pó mágico em seu sinto,
acumula feitiçarias e palavras
coletadas nas duras caminhadas de sensibilização.
Tomara que sempre use suas poções
para estalar fendas
em amor entupido.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

PROGRAMAÇÃO DE SETEMBRO AHORAMÁGICA

"A caça ao Leão com arco" (Jean Rouch, 1965) & "Hermeto, campeão" (Thomas Farkas, 1981) - 05/09

"Zorba, o Grego" (Michael Cacoyannis, 1964) & "A cantoria" (Geraldo Sarno, 1971) - 12/09

"O Pequeno Buda" (Bernardo Bertolucci, 1993) & "Eu carrego um sertão dentro de mim" (Geraldo Sarno, 1980) - 19/09

"Nunca Aos Domingos" (Jules Dassin, 1960) & Exibição de curtas realizado pela Ahoramágica criações - 26/09

Na Vila Cultural Brasil (Rua Uruguai, 1656 esquina com rua Venezuela - Vila Brasil - Londrina - PR)
Sempre aos domingos... 16 horas...