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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Mais um sobre Ponette

Ponette. Ponette me fez lembrar das pessoas virgens de ‘maldade’, que almejam coisas tão simples e paradoxalmente impossíveis. Me fez pensar também que são poucas essas pessoas, e que na maioria são crianças. São raríssimos os adultos.

Rememorei tempos de minha infância, das fantasias que criávamos sobre o mundo e sobre as coisas. Eram fantasias fantásticas, mas, que atingiam o impossível, ou, ao menos, era o que acreditava.

Ponette queria ver a mãe novamente, mas, foi freada por um trágico acontecimento. Quiça, ela gostaria de ver a mãe novamente para deixar de ter, na mente, aquela última expressão da mãe entre as ferragens depois do acidente. Mas, para os outros, cabia apenas um remédio, aceitar que os que morrem não voltam mais. Resta apenas o desvirginamento de mais uma pessoa, que as duras penas, entrará para o mundo onde o impossível jamais poderá ser alcançado.

Quase não lembrei que Ponette era uma personagem, me tirou o fôlego a interpretação da pequena...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Divagações 22.08.2010

Estranhar a morte

Logo após assistir o filme “Ponette”, fui tomar um vento e respirar um pouco depois daquilo tudo que ouvi e visualizei naquela tela, na saída o Sr. Paulo, que mora dentro de um carro estacionado perto do local onde assistíamos o filme, dirigiu-me a palavra e pediu um pedaço de papel para enrolar o seu fumo - “paiero”. Fui procurar, o pedaço de papel, achei e o entreguei a ele.

Derrepente, assim que entreguei o papel ao Sr. Paulo, ele começou a contar que ele era um assassino e que matou um pessoa, mas foi preso em flagrante, ficou 10 e 4 meses preso e agora estava ali diante de mim. O mais surpreendente foi que ele me contou os detalhes do assassinato, contou o porquê, como fez e o executou.

Diante da morte em seus mais diversos aspectos numa tarde de Domingo, entre tantos acontecimentos, a morte sempre é um assunto sedutor, tanto no filme “Ponette” como também na história o Sr. Paulo, um andarilho que foi um assassino, ela nos aparece como mistério e as vezes como horror. Contudo, lembrando da morte, também lembramos da vida e seus belos horrores.

Diante da ilusão de um mundo imaginário
Fomos corrompidos na ilusão de tantos conceitos
Que até nos tornamos derivações
De um bizarro mundo insensível
Onde nascem e são assassinadas diariamente
Milhões almas

Divagações Sem Lógica 22/08/010 Domingo anoite

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Para uma louquinha simpática

Queria desvendar os mistérios da morte, saber para onde vão os mortos. Lia poesias românticas - cadavéricas - nostálgicas de uma vida desconhecida, sentia-se pequena num templo imenso, quanto custa cultuar a morte? Mas, e se adotasse um caminho inverso? Se procurasse descobrir os mistérios da vida? Até estranho dizer "mistérios da vida", se vida é o que a gente vive, mesmo inconsciente, vivemos. Lá, num cômodo escuro, luzes apagadas, olhos fechados, o coraçãozinho ainda continua a bater e esperanças, e temores, e horrores, e alegrias, encontram lugar numa tela onírica. Lá, uma fagulha, uma chama, um sopro de vida miúdo, singular, mas sinal de possibilidades.
Por que continuamos? Para quê prosseguimos? Uma folha caída, um laço desfeito, fatalidades que ninguém consegue explicar ou, se houver alguma explicação, não é o suficiente para a perda que é sentida. Mas perdeu o quê? Uma pessoa amada? Uma pessoa querida? "Pedaço de mim, metade afastada de mim" (Chico Buarque), perdeu uma parte de si mesmo, alguém que um dia foi, não é mais, um fragmento de vida que se torna estória. Memória, talvez seja contada numa noite na proa de algum navio, não com tristeza, essa com T maiúsculo (Don Mioto), sim com a certeza de que viveu, de que minimamente houve alguma experiência compartilhada.
E agora seguir, não com a pretensão de ratificar o que já está posto, de conservar um lugar para um espectro, um fantasma, mas de atar outros laços, se perder e se achar no emaranhado que é viver. Haverá outros sóis, é preciso manter as portas abertas; a intensão não é vencer o labirinto, é encontrar fendas no meio da trajetória, aproveitar as estranhezas para dar novos contornos para a viagem. Andanças, andanças, mesmo no momento mais solitário, haverá uma voz, um ruído para dizer: Vai! Continua! Arruma um jeito de ser feliz nessa vida. "Labutar é preciso, menino!" (Gonzaguinha)

domingo, 22 de agosto de 2010

Ponette e a alegria

“Me disse que aprenda a ficar contente”, a mãe de Ponette voltou em carne e osso e lhe deu essa atenção, essa dica.
“Carne e osso” num sentido duro da expressão. Uma realidade a ser encarada, sem pra onde fugir: a mãe morreu, bebê! E a morte requer desapego, lidar com isso. Ponette precisa desmamar imediatamente, à força, às pressas. E não adianta convidar um ser que já passou proutro plano pra uma festa, ou oferecer-lhe balinhas coloridas redentoras... não! A lição, Ponette, agora não é como se aproximar de alguém que já foi, ou trazer esse alguém que já está pra lá para cá de volta. A lição é dura. É preciso olhar pro mundo e assumir novos laços, completamente diferente dos que tinha com mamãe. Aprender a ser mais só você mesma e isso dói muito. A vida poraqui é muito pouco aconchegante, Ponette... mas é muito satisfatório ir amolecendo tal dureza... ir se encantando com os nós que embananam tudo pela frente... cada vez que se enfia mais na vida, mais mostra que a trama é mais embromada, mas a partir de um momento, pequena, isso passa a ser o sentido da coisa, a alegria da caminhada. A via-crúcis da vida, Ponette, é o inferno necessário para o êxtase do amor. Essa separação fúnebre, forçada pela foiçada da morte, é um crescimento... menina, isso é dor de perder e ser obrigada a ganhar a si mesmo... “a madureza essa terrível prenda que alguém nos dá levando-nos com ela todo sabor gratuito de oferenda sob a glacialidade de uma estela.” (Drummond) Tá vendo como aprender a se alegrar é uma missão complicada, sutil...! É como ser um riacho (I Ching)... correndo e tapando os buracos e fluindo, levando quem quer fluir junto... aprender a ser contente é saber que a tristeza é mais do que uma forma de egoísmo (Arnaldo), é uma maneira medrosa de encarar a dureza da vida... a tristeza (com T maiúsculo) é uma maneira de se esconder, não se encarar, não se soltar, não se mostrar, não se revelar... quando se vê que na via-crúcis o caminho se traça com alegria ou vai ficar na estrada por o triplo de tempo. Viver alegremente passa a ser dolorido, ter de sentir a força da magia crua da vida e com isso se extasiar exige entrega pro fluxo, do que vier de mágica beber sedento. Ponette, agora não adianta fazer cara de choro, o tempo de luto é respeitado, mas medo de viver já é outra coisa, mais próxima da manha, da não maturidade.
Ponette, um centro único, condensado, em que você mirava todo seu amor despreocupado e acolhedor, explodiu, se fragmentou no impacto do volante do carro. Fagulhou-se e você pra encontrá-lo vai ter de procurar em tantos corações poraí que vai acabar descobrindo outras tantas fagulhas de amor antes explodidas que irão lhe seduzir, pode pegá-las, mesmo receiosa, vai montando um mosaico feito com muita dor e doação de si, esse mosaico vai formando aberturas, brechas internas, por onde vão escoando as águas da sensibilização. Você vai ficar, um dia, toda contente de ter o peito todo molhado, daí o brilho nos olhos virão... desmurcha, então, Ponette... agora!

(escrito depois de vislumbrar o filme “Ponette” de Jacques Doillon)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Lucía e o Sexo ou Visita Viagens

Revisito. Te reencontro, já não sou mais o mesmo. Da primeira vez em que você me tomou, me levou, queria saber: o que quero com o cinema? O que quero do cinema? Então te conheci, disse, é isso! Tentei dizer para os outros, encontrava as pessoas nas ruas, nos bares, nos pontos de ônibus. Você havia me mostrado que as palavras, às vezes, são insuficientes, mas insisti tanto, não podia me calar, o meu silêncio só podia ser caminho para que eles te vissem; da vida, é tu que posso e pretendo falar, ainda e agora. Cinema? Desvelamento, desvela dores, não é para que possamos ver melhor a corrida do coelho, mas o vão entre uma pegada e outra. Onde encontrarei um olho mágico que alcance os poros da pele? Onde encontrarei olho mágico que apanhe aquela lágrima como um dedo? Você me ensinou, a obra, muito mais que o artista. Há momentos de escancarar a vida, de gritar amor a todos os cantos do mundo, mesmo que todos os cantos do mundo não possam ouvir, ouvido dela há lua. Há momentos de sugestões, como ruídos percorrem a superfície do nosso corpo sendo tão profundos; implicitar, para que a leveza do breve, do quase despercebido, sustente o nosso vôo. Há fatalidades que exigem sutilezas, porque não é qualquer nudeza que se coloca no coração, porque cada batida como cada nota que se degusta na mesa. Sim, é um convite, uma mão que nos leva por um labirinto, uma porta que se abre, uma vida partida, havia mar, havia braços, este é o momento das lágrimas, não podemos silenciá-lo. Onde moram as feridas também encontraremos o riso. Na surpresa, muito mais do que o espanto, a magia, quando não sabemos se rimos ou se choramos, porque qualquer expressão que pensemos será insuficiente por ser pensada, nesse momento em que as janelas estão abertas para nós, em que o chão não é o limite da nossa queda, mas um buraco numa falsa ilha que nos leva para a metade da história, onde é possível, diante de tanta dor, diante de tanto pranto, recontar e contar a estória, quando já não sabemos o que é história e o que é estória. Recordemos, o olho mágico resgata, mas não é re-viver, não se sentirá como quando viveu a viagem - a visita de si mesmo – o que sentir valerá a pena, valer a pena é continuar a viver. Qualquer momento é único, da particularidade não há dúvida, se houver, prefiro confiar nas pessoas. A mágica não exige prontidão, exige ela, o que demanda de nossos laços, instante em que olhos se cruzam, em que frações de segundo são re-sentidos, sem ressentimento, sem pesar, mas com a intensidade da paixão. Porque somos atormentados, apaixonados, atordoados, tenebrosos, ó: inclusive nos movemos. A maior dificuldade em estudar o ser humano é que é preciso estudar a si mesmo: tocar as nossas fronteiras. Não, os muros não são invisíveis, nós os fizemos e eles já estavam aqui, possuímos uma herança que tem tantos nomes e que não está restrita ao nosso sangue, que não pode apenas assumir a interface anímica. É quando tocamos, é quando olhamos, é quando descobrimos que uma música não é apenas ouvida com os ouvidos, que a vida é sinestésica. É tão rica a sua sinestesia na profundidade de cada singularidade, cada poro, cada parte da nossa pele, cada membro do nosso pensamento. Excitação é êxtase, gozar é amar a vida.

domingo, 15 de agosto de 2010

cinema velho sábio

O filme tem dessa coisa de ser um velho psicólogo, um destravante, um revelador de vidas. Assistí-los e notar em como a poesia imagética foi montada é um assunto difícil... como que o discurso foi confeccionado pra que naquele momento daquela cena uma excitação aí dentro pegue fogo, queima, abre, quebra? não estamos falando apenas de composição técnica... não adianta ficar discutindo qualé a câmera que usou e que filtro e que tipo de luz.... não está se discutindo enredo da história, o tipo de direção, a melhor atuação... não... está se discutindo a sensibilização. Como formular uma poesia? E como a sua magia funcionou? Trata-se disso. O filme, muito mais que seu diretor e seu roteirista, o filme, muitos deles, são velhos sábios, que possuem passes mágicos, cada um com sua peculiaridade madura, cada um tocando numa desvelação, destravação específica de quem entra em contato com a obra. O grupo de estudos Ahoramágica valoriza a pesquisa destes passes sensibilizadores dos filmes que estuda como um grupo que recolhe rabos de largatixa e lágrimas de crocodilo... para guadar... dentro... remoendo pra destravar e inspirar produções que saem de uma sopa feita num caldeirão com estes igredientes recolhidos poeticamente. Uma sopa forte, busca-se. Bate e abre. Na lata. Construir imagens que contaminem e definhem a trava... germes sensibilizadores. O grupo de estudos busca exaltar, num entendimento poético, essas expressões cinematográficas que poderiam desentupir amor se o corpo e as sensações de quem está na sua reta estiver amaciado para isso. Deixemos de interromper aos poucos, porque de uma vez é traumático e impreciso, essa magia amorosa e tão íntima e familiar que nos toma quando estamos descuidados. Cinemando você se descuida, se perde daí se acha.

todo domingo.. quatro horas... lá na Vila Cultural Brasil...
abaixo, a programação.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

PROGRAMAÇÃO DE AGOSTO

Exibições do grupo de estudos...
na Vila Cultural Brasil
aos DOMINGOS - 16 horas.



Lúcia e o Sexo (2001) de Júlio Medem 15/08

O meu tesouro?
En el latido humano,
Para que você abra uma porta
No labirinto que sou,
Para que abramos portas
No labirinto que somos


Ponette (1996) de Jacques Doillon 22/08

Cada segundo vivido,
Cada segundo morrido,
Tantas vezes renascido,
Tantas vezes partido,
Partir para onde o que virá!


Não por acaso (2007)de Philipe Bracinski 29/08

Meandros, interstícios, volteios,
Silêncios, repetições, meios,
Prossigo os riscos dos meus atos
Sou – como deixar de ser? –
C o n s e q u ê n c i a

VILA CULTURAL BRASIL E O GRUPO DE ESTUDOS SOBRE CINEMA

AHORAMÁGICA recentemente fez um acordo com o pessoal da VILA CULTURAL BRASIL (http://vilaculturalbrasil.blogspot.com)... levou pra lá e fincou uma bandeira: o grupo de estudos de cinema da AHORAMÁGICA.
Exibe-se filmes e discute-se. No momento a Ahoramágica preocupa-se muito com a SENSIBILIZAÇÃO... onde que o filme te abre? que que destravou? em qual cena? onde no corpo o personagem te golpeou? filmes liberadores de ranços... tem uns que são mesmo.
A Vila Cultural Brasil fica na rua Uruguai esquina com a Venezuela... número 1656...

As andanças de O PEQUENO

Desde julho, Ahoramágica retomou o processo de produção do curta-metragem O PEQUENO... de roteiro e direção de Luis Henrique Mioto.
O filme está contando com a parceria na produção da DAMEDO produções (www.damedo.com), uma produtora nova daqui de Londrina, amigos, que colabora na feitura do curta de forma independente...
Estamos em fase de ensaios e temos um vídeo que exibe este processo: http://www.youtube.com/user/AHORAMAGICA#p/a
e tem também a prévia do curta (feita em 2008, ano que se iniciou o projeto...)que está disponível aqui no blog.

É um vídeo pra mostrar - a quem nos sentimos juntos - o processo de andança da criação deste cinema-encanto-sonho.
A equipe técnica é formada por Luis Henrique Mioto (direção, câmera, fotografia); Biu (produção e direção de som); Garota Razel (maquiagem e produção); Rodrigo Prado (assitente de direção, contrarregra e continuista); Priscila Mioto (iluminação); Esther (figurino, com a colaboração passada da Lucyana); Cris Peluquero (cabelos); Edinho; Ruth da Silva e Maria Alves na colaboração dos transportes; Isabel na colaboração com o cuidado com seu filho João (o Pequeno)...
A equipe de atores: João (o Pequeno); Eunice (Vida/morte); Thiago Correa (o Motorista); Fabríco Correa (Desejo); Cris (Pressa); Cézinha (Medo); Ronie (Velho Raro) e Matheuzinho (Homem curupiresco).
Ainda citamos o apoio da Vila Cultural Brasil que onde estão ocorrendo os ensaios e as sessões do grupo de estudos Ahoramágica.
Estamos na correria... agradecemos a todos que apoiaram o projeto até o momento... nos sentimos muito gratos.