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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Lucía e o Sexo ou Visita Viagens

Revisito. Te reencontro, já não sou mais o mesmo. Da primeira vez em que você me tomou, me levou, queria saber: o que quero com o cinema? O que quero do cinema? Então te conheci, disse, é isso! Tentei dizer para os outros, encontrava as pessoas nas ruas, nos bares, nos pontos de ônibus. Você havia me mostrado que as palavras, às vezes, são insuficientes, mas insisti tanto, não podia me calar, o meu silêncio só podia ser caminho para que eles te vissem; da vida, é tu que posso e pretendo falar, ainda e agora. Cinema? Desvelamento, desvela dores, não é para que possamos ver melhor a corrida do coelho, mas o vão entre uma pegada e outra. Onde encontrarei um olho mágico que alcance os poros da pele? Onde encontrarei olho mágico que apanhe aquela lágrima como um dedo? Você me ensinou, a obra, muito mais que o artista. Há momentos de escancarar a vida, de gritar amor a todos os cantos do mundo, mesmo que todos os cantos do mundo não possam ouvir, ouvido dela há lua. Há momentos de sugestões, como ruídos percorrem a superfície do nosso corpo sendo tão profundos; implicitar, para que a leveza do breve, do quase despercebido, sustente o nosso vôo. Há fatalidades que exigem sutilezas, porque não é qualquer nudeza que se coloca no coração, porque cada batida como cada nota que se degusta na mesa. Sim, é um convite, uma mão que nos leva por um labirinto, uma porta que se abre, uma vida partida, havia mar, havia braços, este é o momento das lágrimas, não podemos silenciá-lo. Onde moram as feridas também encontraremos o riso. Na surpresa, muito mais do que o espanto, a magia, quando não sabemos se rimos ou se choramos, porque qualquer expressão que pensemos será insuficiente por ser pensada, nesse momento em que as janelas estão abertas para nós, em que o chão não é o limite da nossa queda, mas um buraco numa falsa ilha que nos leva para a metade da história, onde é possível, diante de tanta dor, diante de tanto pranto, recontar e contar a estória, quando já não sabemos o que é história e o que é estória. Recordemos, o olho mágico resgata, mas não é re-viver, não se sentirá como quando viveu a viagem - a visita de si mesmo – o que sentir valerá a pena, valer a pena é continuar a viver. Qualquer momento é único, da particularidade não há dúvida, se houver, prefiro confiar nas pessoas. A mágica não exige prontidão, exige ela, o que demanda de nossos laços, instante em que olhos se cruzam, em que frações de segundo são re-sentidos, sem ressentimento, sem pesar, mas com a intensidade da paixão. Porque somos atormentados, apaixonados, atordoados, tenebrosos, ó: inclusive nos movemos. A maior dificuldade em estudar o ser humano é que é preciso estudar a si mesmo: tocar as nossas fronteiras. Não, os muros não são invisíveis, nós os fizemos e eles já estavam aqui, possuímos uma herança que tem tantos nomes e que não está restrita ao nosso sangue, que não pode apenas assumir a interface anímica. É quando tocamos, é quando olhamos, é quando descobrimos que uma música não é apenas ouvida com os ouvidos, que a vida é sinestésica. É tão rica a sua sinestesia na profundidade de cada singularidade, cada poro, cada parte da nossa pele, cada membro do nosso pensamento. Excitação é êxtase, gozar é amar a vida.

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