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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Para uma louquinha simpática

Queria desvendar os mistérios da morte, saber para onde vão os mortos. Lia poesias românticas - cadavéricas - nostálgicas de uma vida desconhecida, sentia-se pequena num templo imenso, quanto custa cultuar a morte? Mas, e se adotasse um caminho inverso? Se procurasse descobrir os mistérios da vida? Até estranho dizer "mistérios da vida", se vida é o que a gente vive, mesmo inconsciente, vivemos. Lá, num cômodo escuro, luzes apagadas, olhos fechados, o coraçãozinho ainda continua a bater e esperanças, e temores, e horrores, e alegrias, encontram lugar numa tela onírica. Lá, uma fagulha, uma chama, um sopro de vida miúdo, singular, mas sinal de possibilidades.
Por que continuamos? Para quê prosseguimos? Uma folha caída, um laço desfeito, fatalidades que ninguém consegue explicar ou, se houver alguma explicação, não é o suficiente para a perda que é sentida. Mas perdeu o quê? Uma pessoa amada? Uma pessoa querida? "Pedaço de mim, metade afastada de mim" (Chico Buarque), perdeu uma parte de si mesmo, alguém que um dia foi, não é mais, um fragmento de vida que se torna estória. Memória, talvez seja contada numa noite na proa de algum navio, não com tristeza, essa com T maiúsculo (Don Mioto), sim com a certeza de que viveu, de que minimamente houve alguma experiência compartilhada.
E agora seguir, não com a pretensão de ratificar o que já está posto, de conservar um lugar para um espectro, um fantasma, mas de atar outros laços, se perder e se achar no emaranhado que é viver. Haverá outros sóis, é preciso manter as portas abertas; a intensão não é vencer o labirinto, é encontrar fendas no meio da trajetória, aproveitar as estranhezas para dar novos contornos para a viagem. Andanças, andanças, mesmo no momento mais solitário, haverá uma voz, um ruído para dizer: Vai! Continua! Arruma um jeito de ser feliz nessa vida. "Labutar é preciso, menino!" (Gonzaguinha)

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