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terça-feira, 21 de setembro de 2010

que tanto Buda?

escrito após a exibição ahoramagiquenha de "O pequeno Buda" de Bertolucci.

limpe o canal do nariz, soe, forte, os dois. numa posição segura e relaxada, esqueça tudo que veio, o que dói deixa doer, sinta ali como dói e deixa doer, perceba como é engraçado a dor, o desconforto, a necessidade de ficar se mexendo todo tempo, mas não se mexa, resista que o corpo desiste, foca numa coisa simples, como a respiração, deixa as coisas da mente vir e não segure-as, deixe-as passar, não se identifique com elas, deixa ir, e vai vir cada coisa que nunca veio porque você não deixava, mas quando vir deixa continuar fluindo. quem que fica? um observador, diriam muitos, eu prefiro um "sentidor", que é mudo, sereno, só brilha, tá bem aí, muito próximo, é bem simples encontrá-lo, não tem muita complicação não, pode ir, silencie, vai num lugar onde se ouve o vento (não é?) e pare o mundo. bem encima da cabeça surge um vazio potente, dá uma sentida ali, se assustará, não se identifique... continue porali... é a senda... ouça a coisa mais longe que consegue... agora a mais perto... ouça esse zumbido... respire profundamente, só respirando que agente encontra agente mesmo... daí pra frente agente conversa.
tem outros assuntos no Pequeno Buda... a reencarnação... a morte... a iluminação... os tibetanos dão risada de quem pensa que se trata de uma crendice, ou alucinação... acreditando ou não, essas coisas existem, não dependem muito do que você pensa. porque pensamento é algo longe disso tudo. é formulação e mutável, segue um paradigma e dentro dele uma lógica frágil, quebrável num tapa. mas nem por isso esse tal de "pensamento" não deixa de ser arrogante e formular a frase: isso aí é um erro... esses que se retiram pra pensar nesses enigmas estão todos doidões, todos não sabem de nada... sou eu quem sabe. eu. esse pensamento que nunca pensou direito sobre isso e mesmo que tivesse pensado só se complicaria mais com as soluções lógicas frágeis. nada é lógico num mundo divino. o que temos é um grande, pesado e empoeirado pano de ilusão: a racionalidade, que nem nos deixa interessar por temas supremos. ah... quanto tempo demorará essa nossa petulância? quantos caminhos que só tem sentido pra um apenas terão de ser cavados e desmoronados ainda? todos estamos dentro do mesmo barco labiríntico, rumando pras mesmas questões. formulá-las corretamente já é uma grande remada, perceber que muitos outros já tentaram é outra grande remada n'água.
e a fotografia do filme é tão vasta e tanta que o Bertolucci teve que cortar veloz... teve que acelerar a poesia... se não fosse um filme pra vender agente ia ver como que se confecciona fotos... essa história merecia mais coragem de assumir sua lentidão... afinal, o assunto e as imagens ali são pra serem focadas por toda a vida.

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