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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Resposta a que tanto Buda

Concordo com Don Mioto, sobre a perda e não quebra de ritmo que acontece no filme, isso provavelmente aconteceu por conta de quem banca a produção e cobra que os prazos sejam cumpridos. Mas o filme demonstra um grande potencial, inclusive já revelado do senhor Bernardo Bertolucci e do ilustríssimo Vitório Storaro (diretor de fotografia), contudo, fiquei especialmente tocado pelo Eu Tenho um Sertão Dentro de Mim, principalmente pelo texto do Guimarães Rosa, ou Guimarões. Pensei em algumas coisitas quando estava indo para o Lauro Gomes, hoje cedo, lendo o Grande Sertão: Veredas, obra belíssima, prenhe de cotidianos que se sente o cheiro, o odor, o perfume e o fedor:
Lê um livro só com os olhos? Vê um filme só com a vista? E a chuva, o que fez com ela? O que dela faz? Eu tenho as mãos sujas de amora, um passeio que foi plantado na tarde, as folhas que interpelaram a trilha dos meus passos, o vento canta na orelha da gente, um assobio grave que eleva o coração à infinetésima potência. Vai, se lambuza com esperanças, sente os sonhos percorrerem o rio, e a terceira, e a quarta, e a quinta margem, onde o barco aporta, onde o porto é rede, muito mais abraço do que chão, muito mais calor do que segurança. Peito, instrumento principiante, garganta lacrimeja cantoria, disparo finda riso de criança. "Viver é um negócio muito perigoso". Encontrou uma porta aberta, muito mais que uma abrigo, adentrou uma hora mágica, mas até o encanto carrega feridas, podemos até cicatrizar, mas ninguém sara definitivamente da vida. Cada suspiro nos aproxima do fim, não sabemos até quando ficaremos, sentimos o momento do gozo que dura uma aurora, um pôr-do-sol, uma semente noturna, uma madrugada insône, instante em que pensamento, coração, mente, corpo, cérebros, veias, vísceras se encontram, já não nos sentimos partidos. São lugares epifânicos que duram uma eternidade, a eternidade finda, isso poucos entendem. Não é o chá que sobrou da chícara que nos interessa, é o conteúdo perdição das mãos que nos intriga. A vertigem é inerente ao salto, o tormento é expressão do ato medroso, ainda assim, desafiamos o medo, convidamos a cautela para dançar, escapamos dela e convertemos o cuidado em carinho. Apanhamos flor, sim, para degustar o cheiro, colocamos pedras no caminho, sim, desatamos numa briga de amantes com a vida como os ponteiros sentem a dor agônica da hora não marcada. A hora do silêncio que dura a medida da nossa ansiedade, porém, é próprio da ansiedade se fundir com paixão, ser assim desmedida, é assim que o pensamento é confrontado, que as idéias que formamos sobre as coisas são chamadas pra jogar. Ás vezes perdem, a vida carrega um ás na manga, um coringa, Erasmo sabe disso. Caminhos dóem de tão bonitos, caminhos dóem de tão tristes, aprender é mudar. Disso, que Sidarta soube, a gente aprende na levada cotidiana, nos breques e nos atropelamentos, com um soco no estômago, uma carícia, um beijo, de arame farpado, de desejo, de amor. A saudade, cânone do amor que nos encaminha, assim, muito mais do que sina, possibilidade de virar e revirar, sairá uns trocados, a gente pelo avesso. Fazer da linha de fuga, salto quântico, cântico da hora que não se sabe o nome do nome, que demonstra o quanto o sagrado é terrível e belamente profano. Profanos, padecedores, apaguemos as luzes, o sol já baixou, temos apenas o convite dos olhos, el latido humano, dentro do nosso sono, quebrante do ritmo solitário...cadência...cadência...

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